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Pra Não Morrer Hoje
03:51
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PRA NAO MORRER HOJE
Eu como eu fumo eu falo palavrão
Eu corro pra pegar a condução, eu conto moeda, vejo que não da, peço carona, se não dão eu vou a pé, paro de fumar.
Eu lembro das vidas jovens da rua onde eu morava, onde eu moro, todas esvaidas, projétil e projétil num projeto inútil as mães da minha rua que sonham tanto a sua prole mais tão util as classes ricas de plantão, menos um bandido, menos uma prostituta, menos uma travesti, menos uma cantora, um aprentadpr de televisão menos um ator foda, menos uma aberração.
Pra não morrer hoje eu me concentro num outro caminho mesmo que não tenha força pra caminhar e não aja caminho
Pra não morrer hoje, ontem eu fui silêncio pra quem sabe um grito amanhã mesmo que abafado.
Eu fiz escudo da minha alma e carapaça da minha carne, os ossos eu mantenho afiado pra não morrer hoje
Da cabeça eu já nem falo pra não morrer hoje
Faço do sol de ontem o adiantamento pro pão de amanhã e me mantenho o mais longe possível das fardas governamentais
Parto e chego sem partido, cria do povo e de uma dona Maria analfabeta de escola e phd em sobrevivência...
Pra não morrer hoje eu lembro dos irmãos e irmãs que não são contados nem na hora de sua morte e agradeço a minha mãe por ter uma certidão de nascimento.
Pra não morrer hoje eu me lembro de respirar a cada paço dado sempre que der, pra não morrer hoje, sempre que der, só pra não morrer, pelo menos hoje
SO YOU DON'T DIE TODAY
I as I smoke I speak bad words
I run to get the car, I count money, I see that it doesn't work, I ask for a ride, if they don't, I walk, I stop smoking.
I remember the young lives of the street where I lived, where I live, all vanished, projectile and projectile in a useless project the mothers of my street who dream so much of their offspring more so useful the rich classes on duty, one less bandit, one less prostitute minus a transvestite minus a singer minus a television aprentadpr minus a fuck actor minus a freak.
In order not to die today I focus on another path even if I don't have the strength to walk and don't act on the path
So as not to die today, yesterday I was silence for who knows, a scream tomorrow even if muffled.
I made my soul's shield and my flesh's shell, the bones I keep sharp so I don't die today
From the head I don't even speak so I don't die today
I make yesterday's sun the advance for tomorrow's bread and keep myself as far away from government uniforms as possible.
I leave and arrive without a party, a child of the people and an illiterate Dona Maria from school and PhD in survival...
In order not to die today I remember the brothers and sisters who are not counted even at the time of their death and I thank my mother for having a birth certificate.
So as not to die today I remember to breathe every step I give whenever I can, so I don't die today, whenever I can, just so I don't die, at least today
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Transtorno
03:36
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Mar de Amargura
04:29
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Mar de Amargura
Arranhão
Um choro só
Verdade ainda apanha
Solidão sobre nós
Um copo me arranha
Uma dor que me arranha
É pura loucura
Ter que ver o surreal
Num mar de amargura
Coisa de perdão e tal
É pura loucura
É mais que super surreal
É um mar de amargura
Coisa de perdão e tal
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Tarde em Candeias
05:00
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Bianca Close Show
04:02
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Estado de Choque
04:15
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Estado de Choque
E então eles disseram ‘Globalização’. E, então, soubemos que assim chamavam a esta estranha ordem na qual o dinheiro é a única pátria à qual servir, onde as fronteiras se diluem, não pela fraternidade, mas pelo dessangramento que engorda os poderosos sem nacionalidade. A mentira tornou-se moeda universal e teceu em nosso país, sobre o pesadelo da maioria, um sonho de bonança e prosperidade para a minoria. Corrupção e falsidade foram os principais produtos que nossa Pátria exportava para outras nações. Sendo pobres, vestimos de riquezas nossas carências e, tanta e tão grande foi a mentira, que acabamos acreditando que era verdade. Preparamo-nos para os grandes fóruns internacionais e a pobreza foi declarada, por vontade governamental, uma invenção que se desvanecia ante o desenvolvimento que bradavam os índices econômicos. E nós (indígenas) ? Cada vez mais esquecidos. A história não era suficiente para evitar que morrêssemos, esquecidos e humilhados. Porque morrer não dói, o que dói é o esquecimento. Descobrimos, assim, que não existíamos mais, que os governantes tinham se esquecido de nós na euforia de cifras e taxas de crescimento. Um país que se esquece de si mesmo é um país triste; um país que se esquece do seu passado não pode ter futuro. Então tomamos, e penetramos nas cidades onde éramos animais. Fomos e dissemos ao poderoso ‘Aqui estamos!’, e gritamos para todo país ‘Aqui estamos!’, e gritamos para todo mundo ‘Aqui estamos!’. E vejam só como são as coisas porque, para que nos vissem, tivemos que cobrir nosso rosto; para que nos nomeassem, negamos o nome; apostamos o presente para ter um futuro; e para viver... morremos
Collapsed State
And then they said 'Globalization'. And, then, we learned that they called this strange order in which money is the only homeland to serve, where borders are diluted, not by fraternity, but by the bloodshed that fattens the powerful without nationality. The lie has become universal currency and has wove in our country, on the nightmare of the majority, a dream of prosperity and prosperity for the minority. Corruption and falsehood were the main products that our homeland exported to other nations. Being poor, we dress our needs in riches, and so much and so great was the lie that we ended up believing it to be true. We prepared ourselves for the great international forums and poverty was declared, by the government's will, an invention that vanished in the face of development that economic indices clamored for. What about us (indigenous people)? More and more forgotten. History was not enough to keep us from dying, forgotten and humiliated. Because dying doesn't hurt, what hurts is forgetting. We discovered, therefore, that we no longer existed, that the rulers had forgotten us in the euphoria of figures and growth rates. A country that forgets itself is a sad country; a country that forgets its past cannot have a future. So we took, and penetrated into the cities where we were animals. We went and said to the mighty 'Here we are!', and we shouted to the whole country 'Here we are!', and we shouted to everybody 'Here we are!' And just look at how things are because, in order for them to see us, we had to cover our faces; that they might name us, we denied the name; we bet the present to have a future; and to live... we die
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8. |
Profecia
04:52
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PROFECIA
(Bianca Manicongo - Bixarte)
Eu vejo minhas as falas queimarem meu corpo
Atravessar sem pedir meu interior
Eu vejo meus medos intensificados por causa de pragas de muitas igrejas
Usando o Senhor
Eu vejo esse povo matando meu povo reproduz denovo o que me apagou… Da história
Memória notória que estampa o sorriso deixando de lado meus medos e dor
Marcas
Que me ensinou a… Não mais cair
Que me ensinou a adorar meu corpo e respeitar o templo do corpo da travesti
Que Jesus me transforme
E que suas falas sobre meu corpo te transtornem
Não vai ter mais capoeira
Ninguém mais bate tambor
Enquanto não houver justiça, só vamo rezar pra Xangô
Que com seu machado opere milagre
Pois os brancos e seus deuses gregos só operam massacre
Onda conservadora que mata preta de fome ou de trabalho escravo
Vocês são a própria reencarnação do moço Borba Gato
Vocês batem na esposa, me procura de madrugada e de dia bate continência?
Eu sei.. Que só é bom ficar calado, quando Erica Malunguinho pegar a faixa da presidência.
PROPHECY
(Bianca Manicongo - Bixarte)
I see my lines burn my body
Cross without asking my interior
I see my fears heightened by the plagues of many churches
using the lord
I see these people killing my people reproduces again what erased me… From history
Notorious memory that prints the smile putting aside my fears and pain
brands
Who taught me to… No more falling
Who taught me to adore my body and respect the temple of the transvestite's body
May Jesus transform me
And may your talk about my body upset you
There will be no more capoeira
Nobody beats drums anymore
As long as there is no justice, let's just pray to Xangô
That with your ax work miracles
For the whites and their Greek gods only carry out massacre
Conservative wave that kills black women with hunger or slave labor
You are the very reincarnation of Borba Gato
Do you hit your wife, look for me at dawn and salute during the day?
I know.. That it's only good to keep quiet, when Erica Malunguinho gets the presidency belt.
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9. |
Um Corpo no Ar
04:31
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Um Corpo No Ar (Saulo Gomes Rocha)
Outro dia, bem ali naquela esquina, eu vi um menino preto ser imobilizado. No exato momento que eu virei a esquina, do outro lado do cruzamento o corpo de um menino preto congelou no ar, sendo segurado por dois homens que imobilizaram ele.
Normalmente eu sou o cara doidão que fica do outro lado da rua mandando energia positiva pra que as coisas se resolvam. Mas dessa vez eu vi que as pessoas que estavam ali na hora da confusão já tinha ido embora e sobrou uma mulher branca de meia idade que mandava aos berros que os dois policiais prendessem o menino. As pessoas passavam de carro aplaudindo e buzinando em comemoração só por verem um menino preto imobilizado mesmo sem saber o porquê.
Atravessei a rua correndo e perguntei pq o menino tinha que ser preso e ela me disse:
- Porque esse moleque é suspeito!
-Minha senhora, então vai ter que me prender também. Acho que também sou suspeito. Mas ser suspeito não é crime. Racismo é! Inafiançável!
Naquele dia na encruzilhada eu presenciei o conflito e meu olhar aflito flagrou o instante em que mais um garoto preto era imobilizado
O problema pior veio adiante, no show de racismo que envolve a gente e o estado
O cenário era de denúncia de um suspeito sem crime ou vítima presente
E um branco sorriso contente, de uma senhora literalmente
Ovacionada por moradores de uma zona sul carente
Sim, a Zona Sul do Rio de Janeiro é que é uma comunidade carente
Carente de abraços; carente de afagos; mas também carente dos seus antigos escravos; carentes de espaços que agora quem ocupa é a gente
Eu tambem sou o moleque suspeito e sou mais, sou abusado, encardido, viado, orfão, safado, macumbeiro, mandado, o que chamam de errado, mas poderiam chamar sobrevivente de um aparelho de estado que comete crime autorizado
Que dá tapa na cara antes de dizer bom dia
Que fala mal de bandido e corrupto mas olha só, quem diria...
Elege político envolvido com milícia que cobra de geral o cafezinho mas não protege nem os clientes nem o dono da padaria.
Os bacanas chamam de vagabundo o menino preto que mandam pra DP
Mas nunca lavaram o próprio banheiro ou fizeram um jantar QUE
Surge magicamente enquanto assiste TV
E no fim de tudo a gente que tem que agradecer
Ao cara da gravata que nunca falou um obrigado
para mãe do adolescente largado pelo estado
Que agora trabalha até os domingos limpando casas num emprego sem direitos e subremunerado
É muito fácil aplaudir de pé enquanto o pretinho é levado
Esquecendo que ele pode ser o filho da babá que teve que o largar o filho dela pra dar aos teus o devido cuidado
e o desgraçado ainda comemora com buzina quando o o filho dela é levado
esquecendo do futuro que ele como patrão poderia ter dado
se ele tivesse pago o salário da mãe dele que tava atrasado
E o cara ainda chama ela de quase família, embora ela seja um dos poucos pretos que ainda aceita ter ao lado desde que sejam a ele subordinado
Vocês acham que peguei muito pesado? Tem alguém incomodado?
Ah, “irmão”, e se ninguém solta a mão de ninguém, saiba que pra seguirmos de mãos dada, não sou eu que tenho que passar a acreditar no seu discurso de meritocracia. É você que tem que lavar sua mão suja de hipocrisia; reconhecer pelo menos um privilégio por dia, engolir o seu racismo que talvez ainda nem conhecia e trasmutar até ele virar luz, pra que essa luz oriente seu caminho todo dia.
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10. |
Amor de Quintal
03:08
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Amor de Quintal
Minha família é minha espera de afeto
Meu ponto de reconhecimento de minha raiz
Quando vejo minha família não alcanço só meu passado
Mas consigo também dar pé ao meu futuro
Eu cresci em um quintal com terra batida pra entender a dureza do chão e saber que quedas são difíceis mas não insuperáveis
Minhas mais velhas revezam o nosso alimentar
E se preciso fosse colocavam sua fome em modo de espera
Pra suprir nossos sonhos e garantir que acontecesse qualquer ideia que tínhamos e que minha vida não pode concretizar
Somos um quilombo real
Nosso maior significado é que ninguém pode ser deixado pra trás
Deste modo você deve encontrar nos poros de minha mãe um novo sentido de vida de quem detém todos os segredos de sobrevivência
Folha de laranja da terra
Alho
Farinha e água
É em fogo brando que se cozinha a cura
Lembro uma vez que me atirei contra o solo
E perdi um pedaço do meu incisivo central
Mesmo com um buraco no lugar do que deveria conferir um sorriso
Meus irmãos me diziam que eu continuava linda
E isso é sobre saber da beleza por detrás das coisas
Minha família premedita o que vai acontecer
E escreve dali em jardim primavera todas as estações que ajudam uma família que já venceu a fome a entender que não venceu nada se tem gente que ainda não come
Nossa veia principal mora na fé
Nosso impossível mora em nós mesmos
Movimentamos pra quem observa de fora se alegrar ao dizer: veja como essa família preta nunca irá parar por nada
Somos o bem plantado em uma noite de lua cheia
De lá de onde eu venho acredite, o mal se passar é revanche
backyard love
My family is my waiting for affection
My point of recognition of my root
When I see my family I don't just reach my past
But I can also give foot to my future
I grew up in a backyard with dirt to understand the hardness of the ground and to know that falls are difficult but not insurmountable.
My elders take turns feeding our
And if need be, they would put their hunger on standby
To fulfill our dreams and make sure that any idea we had that my life can't come true would happen.
We are a real quilombo
Our greatest meaning is that no one can be left behind
In this way, you must find in my mother's pores a new meaning of life of one who holds all the secrets of survival.
Earth orange leaf
Garlic
flour and water
It is in a gentle fire that the cure is cooked
I remember once I threw myself against the ground
And I lost a piece of my central incisor
Even with a hole in the place of what should bestow a smile
My brothers told me I was still beautiful
And this is about knowing the beauty behind things
My family premeditates what will happen
And writes from there in Jardim Primavera all the seasons that help a family that has already overcome hunger to understand that it has not overcome anything if there are people who still don't eat
Our main vein lives in faith
Our impossible lives in ourselves
We move for those watching from the outside to rejoice by saying: see how this black family will never stop for anything
We are the good planted on a full moon night
From where I come from, believe me, the evil that happens is revenge
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Vinicius Lezo São José Dos Campos, Brazil
Vinicius "Lezo" e tem por objetivo de ampliar as possibilidades de leitura sonora para criar novos sentidos, memórias e afetos. Propõe uma verdadeira colisão de elementos sonoros para expandir consciências e corpos. A partir desta fusão surgem as coalizões artísticas que fazem parte da rede independente que fomenta há pouco mais de quinze anos. ... more
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